11/11/08

O guardador de memórias

A amiga chega e pergunta: sabem aquela dos mercedes?
Eles acenam que não, a amiga conta, ele ri-se, ela não.

Ele – Então? A anedota até tem piada!
Ela – Não percebi…
Ele – Não percebeste o quê?!
Ela – Essa relação com o novo símbolo!
(Silêncio enquanto ele a olha com verdadeiro espanto)
Ele – Mas foste tu que me explicaste, na Sertã, porque é que as vivendas lá têm tantos bonecos de loiça desses nos jardins…
(Silêncio enquanto ela se olha com verdadeiro espanto)
Ela – Pois é… já percebi. Tshsssss… que cena.

Não pode deixar de se preocupar com aquela lastimosa e evidente manifestação do estado de deterioramento da sua memória…

Depois olhou-o.
Fazia sentido:
A informação, os sentimentos e a experiência partilhada durante oito anos estavam ali à frente dela. Tudo o que nunca disse poder-se-ia perder para sempre, mas daquilo que lhe disse, ele guardou parte que podia agora devolver, segundo a necessidade dela.

Olhou-o de novo com um enorme carinho.
Fez-se sentido.