29/09/08

(a)

Metrodiálogos

Ele: Faltam 10m para o metro.
(Silêncio)
Ele: Ontem apanhei um cheio dessas ovelhas trajadas de preto, todos bêbados aos berros e aos saltos. Até o metro abanou. Quem os fodesse a todos, esses cabrões.
(Silêncio)
(Mais silêncio ainda, enquanto olham distraída e alternadamente as bocas dos túneis – tão cedo não iria passar um.)
Ele: Já que o metro vai até ao S. João, podiam fazer um metro-ambulância… até podia ter uma sirene.
Ela: Deviam era fazer um metro-táxi!
(Nota que a sua voz revela impaciência e enfado ao que tinha sido dito.)
(Meio silêncio)
Ele: Pensas que eu não sei? Pensas que eu não topo como andas ultimamente?
Ela: Como?
(Silêncio)
Ele: ‘Prái toda niilista…
(Silêncio definitivo)

25/09/08

(b)

Não há filme que veja ou faça, que não conjugue esta variável.

24/09/08

Do silêncio


Atira-me a palavra.

Deixa que venha rasurada, tremida, espremida.

Ela que chegue. Que me bata, me fira.

Atira-me a palavra, o silêncio não.


Foto daqui.


17/09/08





















«Tenho vontade de lágrimas» é muito diferente de «tenho vontade de chorar».
Bernardo Soares tinha razão.

15/09/08

(a)

Apesar de sofrer de insónias, por vezes de forma violenta e incapacitante, quando estou demasiado cansada adormeço em qualquer lado.
Já adormeci em cafés, no posto de trabalho, em salas de espera, em todos os meios de transporte que já utilizei exceptuando talvez, a bicicleta, à mesa do jantar em casa dos sogros, ao sol sob a relva, ou sob a areia ou em salas de aulas e conferências – se para além de cansada estiver um pouco fora, até uma soleira de granito na baixa da cidade ou o tapete da casa de banho se pode tornar no melhor dos colchões.

Parece assim que só a cama que partilho contigo não me oferece nem conforto nem descanso. Nunca te incomodou que passasse a noite no sofá… mas o que entendia por tolerância, deve ser apenas desinteresse – afinal, enquanto durmo não te posso fazer rir… agora sou-te apenas um analgésico - parece tão pouco quando recordo o tempo em que fui o teu alimento e tu a minha almofada.

Pensar nisto cansa-me.
Hoje devo dormir de novo no sofá, eu sei que não te importas.

12/09/08

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As alíneas:

(a),
(b) e
(c), sendo que esta última se apresenta em abstracto.

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